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Colectivo Mumia Abu-Jamal

Euro-Esperanças de futebol em Israel, os direitos dos palesinianos espezinhados

 
No próximo mês de Junho, terá lugar em Israel o campeonato europeu de futebol de sub-21, apesar dos inúmeros apelos ao boicote vindos de personalidades e organizações de todo o mundo.
Transcrevemos a seguir partes de um artigo de Olivier Pironet, publicado em Le Monde Diplomatique de Maio.
 
Euro-Esperanças de futebol em Israel, os direitos dos palestinianos espezinhados
 
 “Aceitámo-los na Europa e garantimos-lhes as condições de adesão; eles devem respeitar a mensagem das leis e dos regulamentos desportivos internacionais, caso contrário a sua presença na Europa não ocorrerá. Farei tudo ao meu alcance para pôr fim ao sofrimento do jogador palestiniano, nomeadamente no futebol. (...) Israel só tem uma escolha: deixar o desporto palestiniano se desenvolver ou então deverá assumir sozinho as consequências da sua atitude".
 
Assim se exprimia Michel Platini, presidente da União Europeia das Associações de Futebol (UEFA), ao sair de uma conversa com Jibril Rajoub, o seu homólogo da federação palestiniana (PFA), no dia 22 de Setembro de 2010, na sede da UEFA, na Suíça. O antigo futebolista francês parecia então decidido a combater as restrições sobre a liberdade de movimentos impostas pelas autoridades israelitas aos jogadores palestinianos e o bloqueio por parte de Telavive dos fundos e equipamentos desportivos oferecidos à Palestina pelos doadores internacionais ou a própria UEFA.
No entanto, menos de seis meses mais tarde, era atribuída a Israel pela comissão executiva - dirigida pelo mesmo Platini - da instância europeia da bola a organização da fase final do campeonato da Europa dos sub-21 (Euro Esperanças 2013), onde competirão oito países de 5 a 18 de Junho. No verão de 2011, cerca de quarenta clubes de futebol palestinianos assinavam uma declaração comum para darem a conhecer a sua consternação de verem Israel "recompensado com toda a impunidade pela opressão do [seu] povo com o privilégio de acolher" a competição, e pediam a Platini que voltasse atrás sobre a sua decisão. Queriam lembrar-lhe que Israel, que "pratica uma mistura única no mundo de ocupação, colonização e apartheid dirigida contra a população indígena, isto é os palestinianos”, não é "um país como os outros". Esta iniciativa não foi capaz de convencer Platini.
Em 14 de Junho de 2012, foi a vez de Jibril Rajoub manifestar a sua incompreensão numa carta aberta ao presidente da UEFA, divulgada pela comunicação social e acolhida friamente pelo interessado. O patrão da PFA evocava nomeadamente a situação do jovem futebolista de Gaza, Mahmud Sarsak, detido pelo exército israelita no verão de 2009, torturado e encarcerado sem processo nem julgamento, como muitos dos milhares de palestinianos detidos em Israel. Quatro dias mais tarde, Platini confirmava junto do presidente da Associação Israelita de Futebol (IFA), Avraham Luzon, a realização da competição no seu país e dizia-se convencido de "que será uma bela festa do futebol que, uma vez mais juntará as pessoas".
[...] Por ironia do destino, a competição terá lugar, entre outros, no recinto do estádio Bloomfield (ex-Basa), que foi em tempos o do clube palestiniano Shaba Al- Arab de Jaffa, expulso em Janeiro de 1949 em benefício do clube israelita do Hapoel Telavive, e no recinto do estádio Teddy de Jerusalém, situado mesmo ao lado da aldeia árabe de Al-Maliha, esvaziada dos seus habitantes em Julho de 1948 pelas tropas israelitas e quase totalmente arrasada. O estádio Teddy é o antro do clube do Beitar Jerusalem, próximo do Likud (direita nacionalista). Os seus adeptos, abertamente racistas e violentos - dois dos seus slogans favoritos são "morte aos árabes" e "Beitar puro para sempre" -, criaram recentemente uma polémica, ao protestarem contra a chegada de dois jogadores chechenos de confissão muçulmana, chegando a incendiar a sede administrativa do clube em 8 de Fevereiro passado. [...]
Uma coligação europeia de organizações de defesa dos direitos humanos multiplica as acções para tentar chamar a atenção da opinião pública e dos dirigentes políticos. Criou a campanha Cartão Vermelho ao apartheid israelita com o objectivo de conseguir a anulação da competição, sob pena de "reforçar o sentimento de impunidade" predominante em Israel, apesar das violações repetidas dos direitos humanos e os crimes cometidos pelo seu exército em Gaza e na Cisjordânia, que lhe retiram "qualquer legitimidade para acolher eventos desportivos internacionais". [...]
Pelo seu lado, futebolistas profissionais também se mobilizaram, sob a influência do avançado franco-maliano Frédéric Kanouté que esteve na origem de um apelo a boicotar o Euro Esperanças, dirigido à UEFA em 29 de Novembro e assinado por cerca de sessenta jogadores internacionais. [...]
No passado dia 25 de Janeiro, uma delegação de militantes vindos de vários países (França, Reino Unido, Suíça, etc.) dirigiu-se à sede da UEFA para pedir explicações a Platini. Foi-lhe respondido que "o desporto não se pode misturar com política, razão pela qual a UEFA não tem intenção de tomar sanções contra Israel". Michel Platini finge ignorar que a África do Sul, durante o regime de apartheid (com o qual Israel colaborou, indiferente às sanções internacionais), esteve suspensa de todas as competições de futebol a partir de 1964, foi excluída dos Jogos Olímpicos a partir de 1970, e só pôde voltar a integrá-los após a abolição do sistema segregacionista. Nessa época, é verdade, a Europa tinha participado no boicote económico, académico e desportivo ao regime de Pretoria, enquanto que hoje faz prova de muita condescendência em relação a Israel, cujos laços com a União Europeia reforçaram-se cada vez mais nestes últimos anos, apesar da continuação da ocupação militar e da colonização na Palestina.
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