CMA-J

Colectivo Mumia Abu-Jamal

EUA, França e Reino Unido preparam ataque à Síria

 
Mais um crime à sombra das “armas de destruição massiva”
Declaração do Tribunal-Iraque
 
As ameaças proferidas nos últimos dias pelos dirigentes norte-americanos, britânicos e
franceses não deixam dúvidas de que está em marcha um ataque militar à Síria por parte destas potências. De novo se invoca a vontade da “comunidade internacional”, ou seja, a cobertura legal da ONU para levar a cabo o crime. Mas ao mesmo tempo vão-se ouvindo vozes de que a intervenção tem de ir por diante, com ou sem apoio das Nações Unidas.
Antes mesmo de os inspectores da ONU chegarem a qualquer conclusão acerca das
acusações sobre o uso de armas químicas, os EUA, seguidos pelos seus cães de fila em
França e no Reino Unido, dão como culpado o regime de Damasco. Ou seja, a decisão está tomada, haja ou não provas. Lembram-se do Iraque?
Estes recentes desenvolvimentos são fáceis de perceber à luz do que foi a história dos
últimos dois anos de guerra civil na Síria.
A contra-revolução
 
Na primavera de 2011, como no resto do mundo árabe, protestos populares surgiram na Síria contra o regime de Assad. Mas rapidamente as manifestações — reprimidas à bruta pelo poder — foram transformadas numa rebelião financiada e armada por uma vasta coligação de interesses que reuniu as monarquias reaccionárias do Médio Oriente, a França, o Reino Unido, os EUA e Israel, e a que se associou a Turquia.
Tal como na Líbia, tratou-se de um contra-ataque das forças imperialistas e dos seus
fieis aliados na região para estancar e reverter a onda popular que queria expulsar os
ditadores e exigia democracia e condições de vida dignas. A partir daí, a luta deixou de ser um levantamento popular pela democratização do país, e passou a ser uma guerra pelo domínio da Síria conduzida pelas potências europeias e norte-americana.
Todavia, os conflitos de interesses e a diversidade de obediências dos rebeldes que
combatem na Síria (na verdade, bandos de mercenários de todas as proveniências) tornaos incapazes de propor um programa político digno de crédito, de conquistar o apoio das massas populares e mesmo de bater no plano militar o regime de Assad. Nos últimos meses, de facto, as tropas de Damasco retomaram o controlo de zonas estratégicas e viraram o curso da guerra.
Tal como na Líbia, uma vez mais, tornou-se evidente que uma vitória militar dos rebeldes só poderia dar-se com a intervenção directa das potências que fomentam a rebelião. Mas para isso era preciso encontrar um pretexto adequado. E é esse o ponto em que estamos agora .
 
A provocação
A oposição da Rússia e da China nas Nações Unidas travou, até agora, a intervenção
militar das forças imperialistas. Para tornear este obstáculo, franceses, britânicos e israelitas trabalharam incansavelmente para arranjar uma provocação à medida que permitisse chocar convenientemente a opinião pública. Há meses atrás, Barack Obama estabeleceu a “linha vermelha”: o uso de armas químicas não seria tolerado. Estava assim encontrado o tema; a partir daí era uma questão de preparar as coisas no terreno.
A primeira tentativa, em Maio passado, de acusar Assad de usar armas químicas “contra a população civil”, saiu furada porque os investigadores da ONU chamados ao terreno descobriram não apenas que as tropas de Assad não tinham usado armas químicas, mas que, pelo contrário, tinham sido os rebeldes a fazê-lo. Mais: um grupo de rebeldes foi nessa mesma altura detido pelas autoridades turcas na posse de uns quantos quilos de gás sarin.
Mas isto, é claro, não conta para a história que as potências agressoras fazem do conflito.
Se assim fosse, metade do zelo com que os dirigentes norte-americanos, britânicos e
franceses agora acusam Assad de crimes contra a humanidade teria bastado para acabar
com a aventura militar dos rebeldes.
Nas notícias recentes sobre o uso de armas químicas, poucas provas há de que elas
tenham sido usadas e, menos ainda, que tenha sido o regime sírio a fazê-lo. Apesar de a investigação dos inspectores da ONU, que está em curso, não ter concluído nada, tanto o presidente francês Hollande, como o vice-presidente norte-americano Biden, como o ministro britânico dos Estrangeiros Hague decretaram já que está “provado” o uso de gás sarin bem como a “culpa” do regime de Damasco. Tal como há 10 anos George Bush “provou” que o Iraque tinha armas de destruição massiva, quando os inspectores da ONU as procuravam por todo o lado e não as encontravam...
Os “Factos sobre a Síria” abaixo registados mostram bem como está em curso uma
montagem para neutralizar a opinião pública diante da barbaridade que se prepara.
Os serviçais de sempre
 
A unanimidade que a comunicação social adopta, sem quaisquer provas, na acusação
do regime sírio; a veemência com que um responsável do PS português apelou à
intervenção militar; a colaboração canina do governo e das autoridades portuguesas com as potências europeias e os EUA — estão a levar de novo o país a tornar-se cúmplice de mais um crime de guerra e de uma violação flagrante do direito internacional.
Dez anos depois da miserável colaboração na invasão do Iraque e dois anos depois do
servil apoio no ataque à Líbia, as autoridades portuguesas e os partidos do “arco do poder” mostram que, contra o que apregoam, não respeitam nem estão dispostos a bater-se seja pelos direitos humanos, seja pela Carta das Nações Unidas, seja pela democratização da Síria. Apenas as move o propósito de dizer que sim à linha ditada pelas forças imperialistas.
Este historial mostra ao povo português o papel criminoso de todos os que falam em seu nome sem mandato — do “seu” Estado, do “seu” governo, das “suas” autoridades. E exige, portanto, plena solidariedade com o povo sírio e uma clara condenação da agressão em marcha.

Factos sobre a Síria (*)

Não há absolutamente nenhuma prova ou confirmação de que o governo de Assad
tenha efectuado o suposto ataque químico.
Os inspectores de armas das Nações Unidas estão na Síria, a pedido directo do governo
sírio, para provar que não foi o regime de Assad que usou armas químicas.
O governo de Assad tem cooperado plenamente com as equipas de inspecção de
armas.
Carla Del Ponte, uma investigadora de Direitos Humanos das Nações Unidas, afirmou
em Maio que o governo sírio (acusado já então) não usou armas químicas, mas que os
rebeldes o tinham feito.
Também em Maio, 12 membros das forças rebeldes sírias foram presos na Turquia na
posse de perto de 3 quilos de sarin, o gás que, alegadamente, teria sido utilizado no recente ataque.
Em Janeiro, o Daily Mail, um destacado jornal britânico, informou que os rebeldes
estavam a planear um ataque químico para culpar o governo sírio, a fim de justificar a
intervenção dos EUA. O relatório foi baseado em fugas de informações provindas de
empresas militares privadas.
Apesar de seu historial de atrocidades, incluindo estupro, assassinato e tortura, os
rebeldes recebem armas e financiamento directamente dos EUA e dos seus aliados. A ONU informou mesmo que recrutam crianças, além de cometerem outras violações do direito internacional.
Os membros da equipa de inspecção das Nações Unidas manifestaram abertamente as
suas dúvidas sobre o ataque químico. O dr. Ake Sellstrom, o chefe da equipa, declarou
“suspeitos” os relatórios do suposto ataque.
Os relatos sobre o ataque são extremamente inconsistentes. Alguns apontam mais de
1.300 mortos, outros falam em menos de 200, outros ainda em mais de 350. Os números são contraditórios e totalmente sem fundamentação.
O relatório divulgado pelos Médicos Sem Fronteiras, que o governo norte-americano tem usado para culpar Assad, não é baseado em informações próprias, mas em relatos
recebidos de um grupo rebelde sírio. De resto, os MSF demarcaram-se do aproveitamento feito pelos EUA e exigiram que a inspecção da ONU seja levada a cabo.
Vídeos do suposto ataque foram divulgados na internet por aliados dos rebeldes sírios
antes de o ataque ter ocorrido. A credibilidade desses vídeos está ser amplamente
questionada por especialistas em armas químicas. As vítimas não apresentam os sintomas próprios de quem é atingido pelo gás de nervos sarin e as pessoas que tratam dos feridos não usam equipamento adequado.
Os EUA estão neste momento a pressionar a equipa de inspecção de armas da ONU
para terminar o seu trabalho. Mas os inspectores insistem que devem ser autorizados a
continuar as investigações e a determinar os factos reais.
Apesar de toda a confusão e inconsistência que rodeiam as acusações sobre este
suposto ataque, o governo dos EUA, juntamente com seus aliados na Grã-Bretanha e
França estão abertamente a criar as condições para um ataque à Síria.
30 de Agosto de 2013
Tribunal-Iraque (Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque)
 
(*) Fontes: International Action Center, Nova Iorque (iacenter.org), comunicação social e internet

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