CMA-J

Colectivo Mumia Abu-Jamal

Amnistia Internacional critica Israel por mortes de palestinianos

                                                             

Dois dias antes, Jihad Abdul Attawil, um preso de 47 anos, morreu depois de ter sido espancado e atacado com gás lacrimogéneo na sua cela.
Estes três exemplos não descrevem uma semana negra. Eles acontecem todas as semanas, todos os dias e são reveladores da brutalidade da ocupação e da impunidade dos crimes perpretados pelo exército e pelos colonos na Palestina.
 
Um artigo no Público, 27/02/2014: (Maria João Guimarães)                            
Repressão de manifestações palestinianas pelos soldados israelitas é um dos focos do relatório da organização de defesa de direitos humanos.
Samir Awad morreu em Janeiro de 2013. A investigação israelita à sua morte ainda decorre Mohamad Torokman/Reuters
Uso de força excessiva, clima de impunidade no exército, violações graves de direitos humanos e da lei internacional: são várias as acusações que a Amnistia Internacional (AI) faz a Israel sobre o seu tratamento dos palestinianos na Cisjordânia. A organização faz recomendações não só a Israel, mas também aos Estados Unidos e Europa: que suspendam o envio de armas para o país até “Israel poder assegurar que não as usará para violar a lei humanitária internacional”, disse Phillip Luther, director para o Médio Oriente da AI.
Israel reagiu dizendo que o relatório ignora as condições que os soldados enfrentam na Cisjordânia e argumenta que número de ataques dos palestinianos aos militares também aumentou.
No entanto, a Amnistia considera que a maioria das acções agressivas dos palestinianos – lançar pedras contra os soldados, às vezes contra torres distantes ou veículos blindados – raramente causam perigo à vida dos militares. E ainda assim, estes respondem normalmente com disparos, e por vezes matam.
O relatório de 80 páginas “Trigger happy – o uso excessivo da força por Israel na Cisjordânia” começa com o caso de Samir Awad, 16 anos, que saiu de um exame de Ciência para ir, com colegas, até ao muro que divide Israel da Cisjordânia, passando por um buraco a primeira vedação da barreira dupla. Os soldados correram atrás de Samir e dos outros jovens que estavam com ele. A primeira bala atingiu a perna, e Samir correu. “Quanto é que consegue correr uma criança ferida?”, perguntou um amigo de Samir, Malek Murrar, também de 16 anos. “Uns 20, talvez 30 metros? Eles podiam tê-lo prendido com facilidade, especialmente porque ele estava ferido. Mas em vez disso, dispararam contra ele com balas reais”, contou. A bala entrou pela parte de trás da cabeça e Samir morreu, diz o relatório. A investigação decorre há mais de um ano.
É um dos casos que a Amnistia diz que está a acontecer cada vez mais – “mortes e ferimentos de palestinianos como resultado de disparos ou outro tipo de violência por soldados israelitas fora de um contexto de conflito armado”. O contexto é muitas vezes o de protestos contra a ocupação.
O relatório cita números da ONU: em 2013 houve 27 palestinianos mortos por soldados israelitas (25 por balas reais disparadas por soldados israelitas, outros dois por balas de borracha). Em 2011 tinham morrido nove (oito por balas reais e um atingido por uma lata de gás lacrimogéneo) e em 2012 oito por balas reais.
“A maioria dos protestos começa em geral de forma pacífica mas vai ficando violento quando uma minoria, normalmente de jovens, começa a atirar pedras em direcção aos soldados israelitas, por sua iniciativa ou em resposta a uma acção agressiva das forças israelitas”, diz a AI. “Na prática, este atirar de pedras, mesmo quando são usadas catapultas, não representa risco, ou se representar é muito pouco, para os soldados, que estão geralmente muito longe e bem protegidos”. O lançamento das pedras, considera a Amnistia, “não terá mais do que um valor irritante”. Em 22 das 27 mortes palestinianas do ano passado, as vítimas não pareciam representar uma ameaça directa e imediata para os soldados. Assim, continua a AI, estes actos poderiam ser considerados “crimes de guerra”.
Gás lacrimogéneo dentro de casa
Israel muitas vezes reage também com “castigos colectivos”, segundo o relatório. Em Nabi Sabeh, onde há manifestações frequentes, a localidade é frequentemente declarada zona militar fechada e os seus habitantes sujeitos a acções como o uso de gás lacrimogéneo para dentro de casas ou ataques a paramédicos tentando assistir feridos. A AI critica o uso de irritantes químicos em espaços fechados, demasiado perto de pessoas, ou em locais onde possam contaminar água.
Outro ponto apontado no relatório é um clima de impunidade entre os militares. O Estado hebraico decidiu em 2011 exigir investigações a todas as mortes de palestinianos fora de contextos de combates. No entanto, de 20 investigações à morte de 24 palestinianos, apenas uma resultou em condenação de um soldado.
Comentando estes dados, Avihari Stollar, da associação Breaking the Silence, um grupo formado por antigos soldados que se opõem às práticas militares na Cisjordânia, nota que é importante ver o contexto alargado: soldados jovens, de 18 ou 19 anos, encarregados de lidar com uma população civil. “Eles são treinados para combater, não para lidar com civis, muito menos com agitação de civis”, disse ao jornal norte-americano Christian Science Monitor. “Não aceito a ideia de que isto é uma acção deste ou daquele soldado – não aceito a terminologia da maçã podre.”
Israel argumenta que o relatório da AI ignora os mais de 130 feridos por pedras lançadas pelos palestinianos – quase o dobro dos ferimentos do ano anterior – “num total de 5000 incidentes envolvendo o lançamento de pedras”, segundo um porta-voz do exército citado pelo jornal israelita Jerusalem Post.
No ano passado, morreram cinco israelitas em ataques com origem na Cisjordânia, comparado com zero no ano anterior, de acordo com os serviços de segurança interna de Israel. Em 2013, 44 foram feridos em circunstâncias semelhantes, contra 40 em 2012.
Obama vai entrar nas negociações para acordo
Tudo isto acontece num clima político em curva descendente, as negociações em curso entre israelitas e palestinianos são encaradas com cada vez mais cepticismo.
Para contrariar este ambiente de impasse, o Presidente norte-americano, Barack Obama, está a preparar-se para se empenhar pessoalmente no esforço de levar os dois lados a um acordo até Abril, algo que até agora tinha sido sobretudo obra do envolvimento pessoal do seu secretário de Estado, John Kerry.
A Casa Branca anunciou esta quinta-feira que Obama receberá o líder da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, em Washington a 17 de Março.
Obama, nota o New York Times, corre um enorme risco com esta decisão: no seu primeiro mandato o Médio Oriente tinha sido a sua aposta – mas depois de ter juntado israelitas e palestinianos na Casa Branca em 2010 não conseguiu evitar que as negociações se desmoronassem apenas três meses depois. O desafio para a Casa Branca, diz o NYT, era pôr o Presidente em campo quando pudesse fazer diferença. Os conselheiros acreditam que essa altura chegou.
Mas num processo onde os falhanços são comuns e os sucessos raros, há muitos que temem que o Presidente possa estar a arriscar o seu prestígio por algo com poucas hipóteses.
No terreno, o aumento de violência é visto por muitos analistas como um mau prenúncio.

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